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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Rainha de Espadas

Porque há dias em absolutamente que nada se pode fazer além de respirar fundo e deixar passar.

Dias em que a solitude e a solidão caminham de mãos dadas.

Dias de procurar não pensar muito pra muito não lembrar. Não reviver. Não ressentir.

Engolir, sufocar, deglutir, digerir. E erguer a cabeça.

Não se olhar no espelho pra não correr o risco de se desconhecer.

Não deixar ruir a armadura, não abalar os alicerces.

Não se precipitar no vácuo, apenas flertar com o abismo.

Afinal, espera-se que acabe e tudo volte ao (a)normal.

Dias de mergulhar no silêncio e deixar-se embalar pelo carinho benevolente de tudo de doloroso que não se ouviu.

Entregar-se ao arrependimento das coisas não feitas. Ao remorso do não-atrevimento.

Prantear a consciência, a sabedoria adquirida com os anos em troca da inconsequência perdida.

Porque há dias em que a estranheza é ainda mais estranha.

Dias que deviam ficar em branco na agenda.

Dias em que viver dói um pouquinho mais, mesmo com um sorriso nos lábios e sem borrar a maquiagem.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vidas Secas

“Sertão é dentro da gente” – Guimarães Rosa

“Uma boa escrita imita a boa arte das lavadeiras de roupa. Carece de bater na pedra e enxugar o pano, uma, duas, três vezes, até levá-lo ao varal quase sem água. Escrever é secar ao sol.” – Graciliano Ramos


Mais de dois meses sem chuva. A terra sente, virgem desprezada que cultiva mágoa, que guarda rancor. Rachada, trincada, ressecada, estéril, sem viço, sem cor.

Suados de desespero, tentamos continuar nossas atividades rotineiras, como se superiores fôssemos às intempéries.

Também estamos secos. A pele teima em permanecer áspera, os olhos sensíveis como se nunca mais conseguissem chorar, a garganta arranha, tomada de pó, como se nunca mais pudéssemos dizer verdades.

A secura também é interior. Cada vez mais áridos. Indiferentes à dor do outro, às crianças nos sinais, aos animais abandonados, às injustiças, às desigualdades. Sufocados pela areia fina do tempo, enterrados vivos no deserto imenso, do tamanho do mundo, de nós mesmos.

Nada nos deixa suficientemente úmidos. Não há aparelho, balde de água pela casa nem toalha molhada que dê jeito.

“O sertão é uma espera enorme”, disse Guimarães Rosa. Espera-se em prece, em contar as horas, olhando para o céu, tecendo comentários banais. Uma brisa é um presságio, um sinal de que ainda não perecemos.

Espera-se tentando esquecer o motivo. E assim esperamos pela chuva, para tornar a terra novamente verde e fértil, para lavar a alma de quem quiser e estiver pronto, tirar a poeira dos olhos e do coração.

Esperamos por dias melhores. Esperamos pela Primavera.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Coisas que aprendi nestas eleições

(Parte I, a II vem depois da apuração... =P)


  1. Política não é circo, mas sempre aparecem alguns palhaços pra dar show, só porque a plateia é garantida e obrigatória.
  2. A maioria dos candidatos pensa que o eleitor não tem memória. Sob determinados aspectos e em alguns casos, estão certos.
  3. Pelo sim, pelo não, só prometa o que pode cumprir. Bem, melhor não prometer nada.
  4. “Diga-me com quem andas, que eu te direi quem és” é uma máxima que faz todo o sentido na política. Há companhias que, definitivamente, é melhor não ter.
  5. Nem sempre é Deus que se manifesta pela voz do povo. Outras entidades menos privilegiadas também “baixam” na galera.
  6. Alguns candidatos vivem de explorar as próprias mazelas. Outros vivem de explorar as mazelas da população, mais especificamente por uns 4 ou 8 anos.
  7. O voto nulo é de uma nulidade absoluta. O voto útil, de uma inutilidade total.
  8. Toda subcelebridade em decadência quer ingressar na política. E todo político em decadência se acha uma celebridade.
  9. Quem briga e cai na baixaria não tem tempo de pedir votos.
  10. Ninguém chuta cachorro morto. No máximo, tira muito sarro!
  11. Muita gente tem medo de que acabe a “festa da uva”. Por isso, a sinceridade, a verdade, o senso de justiça incomodam. E muito.

sábado, 4 de setembro de 2010

Os humanos, estes seres mitológicos...


Quem já não conheceu alguém tão figura, tão inacreditável que é, que parece lenda?

Com o sucesso de histórias e sagas mitológicas como a de Percy Jackson e mandando o politicamente correto às favas, vamos falar sobre tipos surreais que encontramos por aí...


Quimera – Homem ou mulher, não importa. Ninguém entende mesmo! É aquela criatura estranha, com corpo de leão, cabeças de cabra e dragão, cauda de serpente. Pode tentar seguir diversas tendências, pode tentar se enturmar em qualquer tribo, mas não tem jeito: consegue não se enquadrar em NENHUM ambiente. Se você curte o inusitado, a pessoa quimera acaba sendo até uma companhia interessante.


Centauro – Metade homem, metade cavalo, deixa sua porção equina vir à tona nos momentos mais inadequados, de preferência quando há um público considerável presente. A vítima favorita é a namorada/mulher/ficante, que só não dá uma rasteira nas quatro patas do sujeito porque em outros momentos ele sabe ser, bem convenientemente, um verdadeiro “animal”.


Sátiro – Rapaz inconstante, cheio de assunto e sorrisos, todo trabalhado na conversinha mole, que possui a libido a mil e o juízo a zero. Usou saia e não é sacerdote ou monge, já era. Muitos da espécie contabilizam até aquelas que não pegaram, só pra manter a fama de pegador. O moçoilo, via de regra, também não prima pela qualidade, mas pela quantidade. Se você é alvo de um sátiro, cuidado, pois, ao contrário do ser mitológico, quem acaba tendo um par de chifres é você.


Pégaso – Esse vive no ar, ou melhor, fora do ar. Você conta algo importante ou faz uma pergunta e a reação é sempre a mesma: “Hã? Não entendi!”. Também não quer nada com a vida prática. Seu lema é o desapego total. As contas estão vencendo? “Ah, relaxa, tudo se ajeita!”. Compromissos ou datas importantes? Desista, ele não se lembra nunca (aliás, nem do próprio aniversário!). Pra conviver com quem está sempre nas nuvens, só tentando trancafiar numa gaiola de ouro (o que quase sempre resulta em fracasso) ou embarcando nas mesmas viagens.


Ninfa – Efusiva, livre, leve e, ahhnnn, “soltinha”. Admira as belas paisagens, vive á superfície de lagos, florestas, assuntos... Flanando de jardim em jardim, de bosque em bosque, distribuindo sorrisos, vestida de trajes diáfanos, transparentes-justos-curtos-decotados. Nunca sente frio, mesmo que neve! Possui atração por lentes e flashs. Amante da música (mesmo que seu gosto não seja lá muito apurado), das artes e do futebol, vive à procura de um “deus grego” de polpuda conta bancária. Não raro, como seu correspondente mitológico, tem um fim trágico.


Unicórnio – Para ele, o mundo é cor de rosa e todas as pessoas são boas. Aceita tudo, entende tudo e, ironicamente, só atrai predadores. Sua inocência chega a ser irritante. Falta iniciativa, falta ironia, falta malícia. Falta, inclusive, enxergar o chifre colocado bem no meio da sua testa.


Équidna – A mulher serpente. Aquela que parece inofensiva, mas basta virar as costas uma única vez e ela envolverá você com seu corpo viscoso. E quanto mais você se debater e tentar fugir, mais ela o apertará, até deixar você completamente sem ar. Seu veneno é sutil, paralisa aos poucos, vem por meio de palavras doces, que despertam o sentimento de culpa, o pessimismo, a dúvida, o que há de mais negativo em quem ouve. Dela saem todos os tipos de monstros e males. Como escapar? Fique quietinho, não faça movimentos bruscos e finja que não é com você.


Medusa – Criatura de sangue frio e olhos penetrantes. Totalmente senhora de si, hipnotiza as vítimas sem que percebam, afinal, quem não perde a pose diante de alguém que parece tão fascinante, tão diferente? Mas pra encarar a fera, só sendo herói, pois os reles mortais não se atrevem a enfrentá-la, sob o risco de virarem pedra.


Cérbero – Com três cabeças raivosas, cada uma apontando uma direção diferente, esta criatura oferece uma passagem garantida para o Hades (similar grego do inferno). Implacável, consegue agredir toda e qualquer pessoa que se aproxime. Detesta alegria, festa, música, gente (principalmente feliz). Detesta tudo, mas, no fundo, como qualquer cãozinho, só espera que alguém passe a mão em sua cabeça e o alimente de carinho.


Górgonas – A turminha da Medusa, as BFF, vulgo “migas”. Só conversam entre si, de preferência em código, isolando qualquer outra pessoa que tente se aproximar. Aparentemente poderosas, as donas da festa, mas tudo é pose para esconder as inseguranças e as escamas de serpente. Experimente agir de forma inesperada ou, pior, ignorá-las. Você pode ser devorado ou temido, só depende de sua sorte.


Greias – As tias das górgonas. Fofoqueiras, recalcadas, completamente dependentes uma da outra, principalmente na prática da maldade. Dividem a mesma forma de ver o mundo e tudo que pareça diferente é indecente, escandaloso, horrível, errado. Para anular seu poder, tire-as do seu mundinho, mostre que ser diferente é bem interessante.


Grifos – Se você tivesse cabeça de águia e corpo de leão também não viveria confuso? Pois é, além de confusa, essa criatura é bipolar. Quando você espera o rugido e o bote, vem o voo e vice-versa. Quem convive com um autêntico grifo corre o risco de embarcar em um passeio eterno no seu “carrossel dos humores”.


Sereias/ Tritões – Aqueles que você olha e sabe, de primeira, que são uma tremenda roubada, mas são tão bonitos e “cantam” tão bem, que você não resiste. E acaba se afogando num mar de egocentrismo. Sim, porque eles só veem a si mesmos em seus espelhos d´água. O resto é mera paisagem, cenário pras suas aventuras, brinquedos dos seus caprichos. Pra escapar ou não cair em tentação, só tampando os ouvidos, fechando os olhos e amarrando o corpo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre o tempo, que nunca se perde.

A ternura, esse estado de encantamento instantâneo, tem o poder de acordar os olhos para as sutilezas.
E foi assim que, pela manhã, saindo da padaria, dei de cara com aquela mancha fofa, uma poodle encardida, que corria de um portão a outro da casa da esquina, latindo, ganindo, desesperada.
Caminhei em sua direção e duas jabuticabas pidonas me encaravam como se eu fosse ouvir um “e aí, vai me ajudar ou não?” em segundos.
Já estava atrasada pro trabalho, os pães esfriavam no saco de papel, mas como poderia prosseguir indiferente, com aquele quadro me assombrando, sem um desfecho?
Bati nos dois portões, toquei a campainha. Esperei, solidária, por alguém que pusesse fim à angústia daquela que conquistou minha simpatia por sua inteligência e atitude.
Por fim, a vizinha atendeu, entre adormecida e surpresa. Deu um sorriso sem graça, típico daquelas mães que se distraem, perdem os filhos no supermercado ou no shopping e os encontram, minutos depois, nas mãos de um estranho.
A pequena entrou rapidamente em casa, abanando o rabinho de contentamento. Parece que deu uma olhadinha para trás, como se me agradecesse. Se foi impressão minha, não sei, mas sorri.
Sorri gostoso, leve. E segui meu dia, com uma sensação boa de presente, embrulhada num pacote feito de nuvens, de algodão doce, arrematado com uma fita furta-cor.
O tempo nunca se perde, não existe falta de tempo. Existe o tempo que vivemos, com toda a rotina, os compromissos, as horas marcadas, a agenda.
E o tempo em que realmente existimos. O tempo da consciência, o tempo da delicadeza, em que, desamparados como a cachorrinha, tudo o que queremos e precisamos dar e receber é afeto.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Vêm os felizes encontros...

Ela sempre teve estrelas nos olhos e o coração descompassado. A cada novo amor, sua intuição sinalizava com toda sorte de presságios que aquele seria o definitivo, o “pra sempre” tão falado, contado e cantado.
Só que o “pra sempre” acabava na semana seguinte, amarelava, perdia o encanto. E assim seguia ela, nossa doce heroína, novamente com o coração nas mãos, mas sempre pronto e aberto para uma nova paixão.
Ele sempre teve o abraço na medida certa para receber alguém, embora negasse a si mesmo, a ponto de criar um disfarce tão perfeito que quem o via, não imaginava que ele pudesse ser capaz de tanto carinho.
De balada em balada, ia brincando de se esconder e da possibilidade de se envolver, de gostar e ser gostado. E assim seguia nosso herói, o amigo da galera, a companhia ideal para aqueles que terminavam um relacionamento e queriam viver plenamente a solteirice.
Quis o destino que os dois, ele e ela, se tornassem amigos inseparáveis. Mais que amigos: confidentes, sem máscaras, sabedores do melhor e do pior um do outro.
Um belo dia, ele acordou diferente. Sentiu o peito apertado. Sentiu que o ar sufocava, que a vida não era só festa. Foi aí que olhou nos olhos dela, que dariam pra ver a alma do mundo todo, e se viu refletido. Aí descobriu que o que o fazia tão feliz ao lado dela não era amizade, era amor.
Ela demorou um pouco mais a perceber. As amigas cutucavam, brincavam, mas ela fazia questão de não ver que o então descompromissado convicto havia mudado, pra bem melhor e por ela.
Ele resolveu assumir e lutar pelo que sentia, mesmo que significasse o fim da amizade. Ela colocou-se na defensiva, afinal, era muita informação pra pouco tempo, era muita novidade pra uma pessoa só.
Por fim, capitulou. Rendeu-se. Descobriu que não precisava procurar longe o que esteve sempre tão perto.
O que realmente importa é que nunca se viram sorrisos tão intensos, tão verdadeiros, nem tantas palavras carinhosas em seus lábios.
O amor pode ser bem simples. Pode morar ao lado. Pode estar disfarçado. Pode só estar esperando acontecer, em alguma esquina, em algum momento.
A gente é que foge, disfarça, exige demais, complica. Afinal, diria o poeta, “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

vem um happy end!

Assim, por acaso, como gol aos 45 do segundo tempo em final de campeonato. Beijo roubado no portão de casa na despedida.
Quando menos esperava, quase um atropelamento, um raio caído diretamente na cabeça. Quando aprendi a lidar com meus suores, minhas luas, minha solitude convicta e meus fantasmas.
Assim, você. Com um universo inteiro de manias, esquisitices, poema, calor e ternura. Você, meu anti-herói, o príncipe desencantado que eu vislumbrava das alturas da torre do oitavo andar do meu castelo (de onde eu sempre acabava despencando) e de muitas taças de vinho.
Lógico que não seria fácil, senão não teria graça, não daria vontade de continuar. E as parcas entrelaçaram nossos fios de tal maneira que o que era primeira pessoa do singular tornou-se primeira do plural.
E plurais também somos nós. E sua preguiça de manhã já até simpatiza com meu mau humor, meus cachos estrategicamente vermelhos e rebeldes e sua escultura capilar em gel se complementam, seus óculos e os meus já se confundem. E eu já não sei onde começo eu e onde termina você.
Tão iguais, tão diferentes. O jornalista e a publicitária. O católico e a pagã. O “bom rapaz que você apresenta pra mãe” e a “louca que você não deveria namorar”.
E filho, gato, famílias, contas pra pagar, roupa pra lavar, compras do mês, café feito de manhã com sono também já se tornaram parte desse roteiro, dessa matéria, dessa crônica. E as palavras se fizeram uma vida inteira.
E eu adoro, como nunca poderia imaginar, viver essa história orkutiana que virou real, conversa eme-esse-ênica que tomou forma, voz, aroma, textura, sentimento.
É por isso que tinha que ser assim, pela web, essa declaração rasgada, postada, twittada, em caps lock: EU AMO VOCÊ!


Pra você, @glauciofarina, amor desta e de outras vidas...